A sustentabilidade está em alta: um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceira com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), revela que 10% das carteiras dos bancos brasileiros já correspondem a empresas que colocam as preocupações socioambientais entre as prioridades. O reconhecimento desse compromisso nos negócios, que pode ser aferido com certificações internacionais também cresce. Dados do Inmetro de abril deste ano mostram que Santa Catarina já ocupa o quinto lugar entre os Estados brasileiros cujas empresas possuem certificação ambiental. São 83 no total. O líder nesse quesito é São Paulo, com 892 companhias registradas.
Para o economista Eduardo Alvares Beskow, pesquisador do Observatório de Sustentabilidade e Governança da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as empresas só têm a ganhar agregando o conceito de sustentabilidade às marcas. O especialista lista vários fatores que comprovam a tese. O primeiro é de que existem fundos de investimento que só aplicam seus recursos em empresas que possuem relatório de sustentabilidade, respeitam as diretrizes para a preservação ambiental, utilizem energias renováveis etc. Nesse sentido, as companhias que queiram atrair novos capitais, já começariam com vantagens.
O segundo ponto observado pelo economista é o custo. Investir na utilização de menos água e energia, em matéria-prima reutilizada, e na redução da distância do transporte de mercadorias significa uma redução significativa nos gastos da empresa. E a razão mais importante para que os empreendedores se sintam impulsionados a abrir um negócio sustentável, sem dúvida, é o investimento a curto e longo prazo no bem-estar global.
É fundamental, no entanto, ressaltar que o termo sustentável não está atrelado apenas à natureza. A questão social, muitas vezes, passa despercebida. Doutora em Direito Ambiental pela UFSC, Fernanda Medeiros resume o conceito de sustentabilidade aplicado ao empreendedorismo como a busca constante entre o crescimento econômico e o devido cumprimento das normas de proteção do ambiente e do respeito ao trabalhador.
Modelos que inspiram
Estar de acordo com as normais ambientais e sociais também não garante a lucratividade. Para quem ainda não abriu o próprio negócio, o economista Eduardo Beskow recomenda a pesquisa de modelos de empresas que já realizam ações sustentáveis na fabricação de produtos ou na prestação de serviços e a adaptação dessas ações para as suas novas empresas.
– Diversos negócios podem ser rentáveis e sustentáveis. Qualquer atividade de produção orgânica, que utilize os recursos locais e que esteja de acordo com a legislação ambiental, fornecerá um produto saudável, inovador, além de contribuir com a saúde e a qualidade de vida das pessoas – sugere Beskow.
Garimpo no lixo que vira matéria-prima de design
Guilherme Almeida trabalhava em um dos maiores escritórios de design de São Paulo há cerca de um ano. Cansado do ritmo da metrópole e das pressões da profissão de publicitário, optou por abrir mão do alto salário, mudar para Florianópolis com a família e abrir o próprio negócio. Gastou cerca de R$ 10 mil em ferramentas para construir uma oficina no mesmo terreno da casa onde vive e retomou uma paixão antiga: a de criar produtos juntando técnicas de marcenaria e design. Assim, nasceu a Less.
Além do trabalho nas peças ser feito de forma artesanal, o diferencial da marca é o uso de matéria-prima reutilizada, como garrafas de vidro e peças de madeira encontradas em depósitos de reciclagem ou mesmo no lixo. O ofício de Almeida consiste em garimpar bons materiais nas ruas para a base das peças e transformá-los, de forma minuciosa, em porta-discos, luminárias, relógios e posters.
Para o empresário paulista, a proposta sustentável da Less reflete a preocupação de manter a coerência entre o negócio e o jeito com que leva a vida pessoal.
– O meu dia a dia é sustentável. Eu me preocupo em separar o lixo que produzo em casa, em economizar água e energia. A minha empresa não daria certo se não fosse coerente com o meu estilo de vida, observa o empreendedor.
A Less vende cerca de 40 peças por mês para todo o Brasil e algumas encomendas são negadas porque a empresa não dá conta da demanda. Por isso, entre as metas imediatas do empresário está a contratação de funcionários.
O gaúcho Paulo Rodriguez, o cearense Márcio Holanda e a portuguesa Ana Ruivo também escolheram Florianópolis para empreender na área sustentável. A dupla de brasileiros deu início à Baixo Impacto Arquitetura em 2006, com o foco em desenvolver empreendimentos ecológicos e bioconstruções em lotes urbanos, rurais, sítios, condomínios e ecovilas. Surpresos com o aumento significativo da busca por construções verdes a partir de 2012, convidaram a arquiteta estrangeira para fazer parte da equipe durante um projeto da Organização das Nações Unidas (ONU) em São Tomé e Príncipe, na África, onde atuaram juntos.
Mesmo com a questão da sustentabilidade em alta, o trio lembra que muitos clientes procuravam a empresa com o intuito de construir ou reformar segundo o padrão convencional.
– No início, tínhamos que fazer todo um trabalho de convencimento dos clientes, sugerindo técnicas simples como captação de água da chuva, saneamento ecológico, coberturas ajardinadas. Aos poucos, sentimos que já temos uma clientela que nos procura especificamente para construções mais sustentáveis, comenta a sócia Ana Ruivo.
Expansão orgânica
Por mais que a crise econômica tenha afetado a construção civil, ela não freou os planos dos arquitetos de expandir o negócio. A maior parte dos clientes procura a empresa para a construção de residências, mas os projetos de escolas, centros culturais e empreendimentos turísticos estão a todo vapor. Outro aspecto que comprova o sucesso da empresa é a quantidade de clientes fora de Santa Catarina. A Baixo Impacto Arquitetura já desenvolve seus projetos no Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e, mais recentemente, no Ceará.
Em relação aos custos, o trio de empreendedores esclarece que as construções sustentáveis costumam ser mais baratas que as convencionais. Mesmo que o valor de investimento não seja o grande atrativo de clientes no primeiro momento, acaba sendo quando a conta é feita no longo prazo. Ana Ruivo garante que a empresa busca o aproveitamento dos recursos energéticos naturais. No futuro, isso significa não só economia para a natureza, mas para o bolso.
O que é a economia verde?
O conceito de economia verde foi criado a partir de encontros internacionais como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Eco 92, realizada no Rio de Janeiro. O termo significa, em linhas gerais, o alinhamento entre o meio ambiente e a economia. Ou seja, entende que o desenvolvimento dos países deve ser baseado na baixa emissão de carbono, na eficiência da utilização dos recursos e na inclusão social.
Fonte: DC